[FVM #03] Seja o seu próprio nicho 🏴☠️
Sobre não deixar que os outros pautem o seu trabalho.
🎧 Para ler ouvindo1: Some Things Last a Long Time, por Daniel Johnston.
1.
Daniel Johnston não era o músico mais técnico, não tinha uma grande gravadora por trás ou equipamentos de última geração, mas ele tinha algo único: sua visão de mundo – que incluía uma obsessão pelo amor e um medo incontrolável de demônios; os próprios e os imaginados.
Prolífico e no estilo faça você mesmo, Johnston, que faleceu em 2019 aos 58 anos vítima de um ataque cardíaco, conviveu com distúrbios mentais de várias ordens durante toda a sua vida, mas mesmo assim gravou 20 álbuns; boa parte nos anos 1980 em um velho gravador de fitas cassete.
Além da música, Johnston também gostava de desenhar. Na época em que compôs e gravou suas primeiras canções, Johnston gastava boa parte do seu salário – ele trabalhava no McDonald´s servindo hambúrgueres – em fitas cassetes virgens; as capas eram coloridas à mão.
Sua estratégia de distribuição era simples: qualquer pessoa que demonstrasse o mínimo de interesse ganhava uma fita de presente.
Certa vez, uma garota chamada Laurie, que trabalhava em uma loja de discos, piscou para Johnston; o ato foi suficiente para Laurie tornar-se sua musa; um amor platônico que apareceria em algumas de suas composições.
“Ela sempre me fez sentir em casa
Com ela nunca me senti deslocado”
2.
O trabalho de Johnston chegaria ao mainstream no início dos anos 1990 graças a Kurt Cobain que, no auge do Nirvana, costumava ser fotografado vestindo uma camiseta com o desenho da capa do álbum Hi, How Are You (1983).
Apadrinhado não apenas por Cobain, mas por outros grandes nomes do rock alternativo, como os integrantes das bandas Sonic Youth, Yo La Tengo e Built To Spill, Johnston assinaria com uma grande gravadora em 1994, a Atlantic Records – antes, Johnston, que estava internado em um hospital psiquiátrico, havia recusado um contrato com a Elektra Records porque acreditava que a gravadora tinha ligações com o Satanás2; o Metallica fazia parte do catálogo do selo.
Fun, álbum gravado em um estúdio profissional e lançado pela Atlantic Records com um som mais polido que o característico lo-fi do velho gravador de fitas cassete de Johnston, foi um desastre comercial, vendendo apenas 5.800 cópias.
Johnston seria demitido da Atlantic Records em 1996.
3.
Dia desses, rolando o feed do Notes, percebi que 8 entre 10 posts eram sobre uma treta gerada por um(a) usuário(a) que escreveu algo sobre “o que deve ou não deve ser publicado no Substack”.
Não encontrei a publicação original com a origem da treta, mas os comentários variavam entre pessoas discordando, “o Substack é meu e eu escrevo o que eu quiser”, e gente concordando, “isso aqui tá virando um Instagram, já está cheio de guru vendendo curso”.
Fiquei bastante pensativo sobre isso, escrevi um post (que apaguei) concordando com a discórdia e abri uma caixinha de perguntas no Instagram (por lá sou o @matheusdesouzacom).
4.
Assim como a discussão no Substack, a pergunta acima também me deixou pensativo.
Quando foi que deixamos os outros pautarem o nosso trabalho?
Entendo que, no caso da pergunta do Instagram, nos falte algum contexto, não sabemos o currículo do rapaz, não conhecemos as suas habilidades, mas a lógica é parecida com a produção de conteúdo na internet.
Eu trouxe a história do Daniel Johnston para cá porque acredito que ele seja um ótimo exemplo de que não existe essa de nicho saturado quando você é o seu próprio nicho; isso significa que nós, produtores de conteúdo, não precisamos (ou devemos!) nos conformar com um estilo, gênero ou modelo de sucesso pré-existente.
5.
Apaguei meu post sobre a treta do Substack porque cheguei à conclusão de que esse tipo de discussão não me interessa mais; estou ocupado tentando criar algo com a minha cara, algo que não dependa da tendência do momento, que não dependa de algoritmo, que não dependa de um nicho estar saturado ou não3.
Não quero saber qual o melhor formato, qual a melhor área; quero trabalhar em projetos que tenham a ver com as coisas que eu gosto, com as minhas obsessões; escrever, contar histórias e viajar são algumas delas.
Evidentemente não há fórmula, mas para que nós, que produzimos conteúdo na internet, seja escrevendo no Substack, seja gravando vídeos para o YouTube ou para o Tik Tok, tenhamos algum sucesso4 fazendo o que fazemos, não podemos deixar que os outros nos ditem o que deve ou não ser feito5; nós é que devemos ditar as regras; eles que nos copiem.
Um "nicho saturado" só é saturado quando você está jogando com as mesmas regras dos outros. Quando você decide jogar o seu próprio jogo, criando seu conteúdo ou negócio com base na sua bagagem, nos seus valores e nas suas obsessões, o conceito de "saturação" deixa de existir; ninguém pode competir com você quando você é você mesmo.
🎨 Clube Passageiro #18: Viver de arte (feat. Pe Lu, da banda Restart)
No encontro de outubro do Clube Passageiro tenho a honra de receber Pe Lu, da banda Restart; um músico, compositor, produtor e mentor musical com mais de 500 mil discos vendidos e 1 bilhão de streamings nas plataformas – e de forma independente!
Sim, esse será um papo nostálgico que quem tem mais de 30 certamente irá adorar, mas a conversa irá além disso: será uma grande reflexão em grupo (conto com vocês) sobre os rumos que o “viver de arte” têm tomado; o Pe Lu começou no finado MySpace (!), passou por Fotolog e Orkut, viu plataformas surgirem e sumirem na mesma velocidade, viveu a fama, os julgamentos, o hate e, pra nossa sorte, segue aqui fazendo o que ama; e inspirando outros artistas a fazerem o mesmo.
🗓️ O que você precisa saber sobre o bate-papo com o Pe Lu
Tema: Viver de arte.
Data: quarta-feira, 30 de outubro de 2024.
Horário: 18h de Brasília.
Duração: cerca de 1h30.
Como participar: inscrevendo-se em qualquer um dos planos pagos do Clube Passageiro.
🧠 Para ler, assistir e ouvir
Em 2013, Daniel Johnston fez seu único show no Brasil. A apresentação aconteceu em São Paulo e foi bastante elogiada.
A vida de Daniel Johnston foi retratada no documentário The Devil and Daniel Johnston, de 2005, que mostra a triste trajetória do músico; de um adolescente que sempre perseguiu a vida artística, com ilustrações, filmes e músicas, passando pela degradação mental.
A edição de hoje tem bastante a ver com esse vídeo do Arthur Miller, o meu novo YouTuber favorito. Gosto da parte em que ele fala sobre a “gambiarra” da sua lente fisheye; me lembrou as gravações caseiras e imperfeitas do Daniel Johnston.
Uma leitura rápida sobre criação literária: Zen na arte da escrita, de Ray Bradbury, autor do clássico Fahrenheit 451.
Uma playlist com as músicas favoritas do Anthony Bourdain.
SABLE,, novo EP do Bon Iver, tá gostosinho demais.
🗣 Call to action aleatória para gerar engajamento
Você sente que tem algo que te impede de ser você mesmo nas redes sociais?
Acesse a playlist com as músicas indicadas aqui e na newsletter Passageiro. Ela é atualizada semanalmente.
Deve haver alguma metáfora aqui.
Isso não é uma indireta para ninguém, ok? É um conselho para criadores. Eu genuinamente não encontrei a origem da treta.
Ainda que “sucesso” tenha significados diferentes para cada um de nós.
O que pode ser encarado como uma ironia, uma vez que, aparentemente, estou tentando ditar o que você deve ou não fazer; mas peço que você leia isso como um conselho, não como uma regra.
O que nos impede de sermos nós mesmos nas redes sociais são as redes sociais. Sim, somos fundadores de um agência de marketing digital.
No nosso modo de ver, o que cada um deve fazer é um ponto que reúne suas habilidades técnicas (por isso, quanto mais experiente, maiores as chances de alguém reconhece-las em si mesmo), seus valores (que constituem a base das chamadas habilidades comportamentais) e seu propósito (aquilo que faz sentido naquele ciclo da vida).
A vida é dinâmica. O olhar de quem diz o que o outro deve fazer diz muito sobre o momento de vida do julgador. Para o julgado, que quer também encontrar uma direção, restam sentimentos ambíguos, que o deixam inseguro. As respostas tendem a aparecer não pela indicação do julgador, mas sim com o tempo por meio das consequências do julgado ter seguido os “conselhos” do julgador ou por ter rumado por outros caminhos. Mas a decisão existe, subjetiva ou racionalmente.
Se fôssemos seguir conselhos de julgadores, jamais seríamos fundadores de uma agência de marketing digital, pois não somos formados na “área”, não tínhamos experiência na “área” e não somos criadores de conteúdo.
Porém, aqui estamos com 5 anos e meio de agência, sobrevivemos a 1 pandemia, 107 seguidores no Instagram e em crescimento sustentável e equilibrado com nosso propósito de viver o offline.
Como estamos conseguindo? Aplicando nossas habilidades de gestão de negócios nessa NOSSA empresa, equilibrando com nossos valores e recheando com nosso propósito. Essa “fórmula” serve para nós. O deleite da vida é descobrir, cada um, a sua fórmula.
That's the spirit!
Que pena que vou perder o encontro ao vivo com o Pe Lu, dou aula na mesma hora. Mas vou assistir depois :)