[FVM #02] Dinossauros morrerão lentamente 🏴☠️
A inspiradora história do líder da banda punk NOFX viralizou no LinkedIn (!); e isso é bom.
🎧 Para ler ouvindo1: Dinosaurs Will Die, por NOFX.
1.
Caso as palavras Kazaa, Winamp e mIRC signifiquem algo para você, existe uma grande chance de que 1) você tenha nascido entre 1980 e 1990 e 2) em algum momento da sua adolescência tenha escutado um CD2 pirateado com músicas do NOFX.
A influente banda punk liderada por Fat Mike iniciou as suas atividades em 1983 e de lá para cá lançou 15 álbuns de maneira independente; incluindo os hoje clássicos Punk In Drublic (1994), So Long & Thanks For All The Shoes (1997) e War On Errorism (2003).
Após 41 anos na estrada, o NOFX encerrou as suas atividades no último dia 07.
2.
A ideia inicial de formato da newsletter era contar histórias de artistas e criadores independentes que fizeram acontecer em suas áreas de atuação e relacionar todo esse rolê ao conceito de “negócio de uma pessoa só” (que expliquei na primeira edição de FVM).
Eu tinha até uma listinha prévia de possíveis personagens:
Fat Mike (NOFX);
Ian MacKaye (Fugazi, Minor Threat);
Kathleen Hanna (Bikini Kill, Le Tigre);
Henry Rollins (Black Flag);
Jello Biafra (Dead Kennedys);
Greg Graffin (Bad Religion);
Laura Jane Grace (Against Me!);
Tim Armstrong (Rancid, Transplants, Operation Ivy);
Viv Albertine (The Slits);
Kevin Parker (Tame Impala; que não é punk, mas é literalmente um negócio de uma pessoa só).
Eu realmente estava a fim de escrever esses textos, mas deixei a ideia inicial de lado porque, como a maioria desses personagens são desconhecidos do grande público, imaginei que o formato interessaria no máximo sete pessoas; e fiz exatamente o oposto do que prega o punk: optei pelo caminho mais fácil e deixei me levar pelas tendências.
3.
Não sei se vocês acreditam em sinais – eu tendo a acreditar neles quando me convém –, mas semana passada, minutos após divulgar a primeira edição de FVM em minhas redes sociais, estava vagando pelo esgot…, digo, pelo feed de notícias do LinkedIn, quando me deparei com uma postagem sobre o Fat Mike.
A postagem, que resume muito bem a trajetória de faça você mesmo do líder do NOFX, me surpreendeu em diferentes níveis: 1º por ser no LinkedIn, 2º por ter dado uma leve viralizada e 3º pelos comentários.
Há tempos estou de saco cheio do LinkedIn (aparentemente não sou só eu) e tenho usado a rede apenas como uma forma de divulgar os links das minhas newsletters, fazer propagandas dos meus cursos, esse tipo de coisa, mas não é que esses comentários acenderam uma luz aqui? 💡
4.
Mais do que o músico em si, eu sempre admirei o empreendedor Fat Mike; não exatamente no sentido de ganhar dinheiro (nisso também), mas principalmente pela autonomia criativa que sempre pautou o seu trabalho.
O NOFX é um dos raros casos de bandas punk que alcançaram sucesso mainstream sem ceder às pressões da indústria; alô, blink-182!
Em 1990, para que a banda continuasse totalmente independente, Fat Mike fundou a sua própria gravadora, a Fat Wreck Chords, que além de lançar todos os trabalhos do NOFX desde então, ajudou a promover inúmeras outras bandas do gênero que compartilhavam os mesmos valores.
As famosas coletâneas Punk-O-Rama, lançadas em uma época em que não existiam playlists infinitas e/ou serviços de streaming, são um belo exemplo de empreendedorismo colaborativo; aquele negócio de que juntos somos mais fortes.
(Que ironia: agora você pode ouvir as 10 edições de Punk-O-Rama no Spotify).
5.
Uma das músicas mais famosas do NOFX, Dinosaurs Will Die (“Dinossauros Morrerão”), previu, de certa forma, a morte da “indústria da música parasita” – pelo menos do modo como a conhecíamos.
“Indústria da música parasita
Enquanto ela se destrói
Nós vamos mostrar pra eles como é pra ser
Músicas feitas pela devoção, não pela ambição, nem pela fama
Ninguém é explorado, não tem truques na nossa manga
Nós vamos lutar contra o apelo de massa
Vamos lutar contra o Acordo dos Sete Discos3
Fazer álbums que tenham mais de uma música boa
Os dinossauros morrerão lentamente
E eu acredito que ninguém vai chorar”
6.
Em meus dois trabalhos criativos, a escrita e a produção de conteúdo, sinto-me explorado por duas indústrias parasitas diferentes: 1) conglomerados de editoras e jornais, velhos dinossauros cujas mortes estão bem encaminhadas; 2) redes sociais bilionárias que exploram criadores e os padronizam como robôs dependentes de algoritmos que, dia após dia, estão destruindo a saúde mental de quem depende deles.
Tenho estado bastante pensativo sobre as duas coisas.
Criar uma editora própria é algo que me parece de certa forma palpável – confesso que me vejo fazendo isso no futuro – e hoje em dia é muito mais vantajoso para mim trabalhar duro no crescimento das minhas newsletters do que ser colunista em algum jornal, mas criar uma rede social própria seria utopia; me faltam habilidades e dinheiro.
De modo que o máximo que posso fazer nesse sentido é tentar não perder a minha essência e seguir criando nas redes sociais do meu jeito, independentemente se sete ou sete mil pessoas irão ler; exatamente o que propus no Manifesto da FMV.
O que, não vou negar, torna esse texto de certa forma hipócrita, sou o primeiro a admitir, uma vez que eu só o escrevi quando vi o post do Fat Mike meio que viralizar no LinkedIn, porém, a ideia original já estava aqui; às vezes tudo o que precisamos é um empurrãozinho – e saber interpretar os sinais.
🎨 Clube Passageiro #18: Viver de arte (feat. Pe Lu, da banda Restart)
No encontro de outubro do Clube Passageiro tenho a honra de receber Pe Lu, da banda Restart; um músico, compositor, produtor e mentor musical com mais de 500 mil discos vendidos e 1 bilhão de streamings nas plataformas – e de forma independente!
Sim, esse será um papo nostálgico que quem tem mais de 30 certamente irá adorar, mas a conversa irá além disso: será uma grande reflexão em grupo (conto com vocês) sobre os rumos que o “viver de arte” têm tomado; o Pe Lu começou no finado MySpace (!), passou por Fotolog e Orkut, viu plataformas surgirem e sumirem na mesma velocidade, viveu a fama, os julgamentos, o hate e, pra nossa sorte, segue aqui fazendo o que ama; e inspirando outros artistas a fazerem o mesmo.
🗓️ O que você precisa saber sobre o bate-papo com o Pe Lu
Tema: Viver de arte.
Data: quarta-feira, 30 de outubro de 2024.
Horário: 18h de Brasília.
Duração: cerca de 1h30.
Como participar: inscrevendo-se em qualquer um dos planos pagos do Clube Passageiro.
🧠 Para ler, assistir e ouvir
Não encontrei a versão em português, mas NOFX: The Hepatitis Bathtub and Other Stories é, de longe, a melhor biografia de uma banda que já li.
12 rendas extras: o ensina como ele ganhou mais de R$ 1.500/semana nos últimos 12 meses.
“não sei bem, acho que eu faço uma mistura de video-ensaio com vlog. vídeo toda quinta-feira.” – essa é a descrição do canal do Arthur Miller no YouTube. Não nos conhecemos, mas tem sido legal acompanhar o crescimento do canal, criado há 3 meses. Há umas semanas ele estava comemorando a marca de 1 mil inscritos, hoje ultrapassou os 3 mil. Além do conteúdo, os vídeos são muito autênticos e tem tudo a ver com os papos aqui da newsletter. Ele me convenceu a criar um canal no YouTube ainda em 2024.
Meu gosto musical foi mudando ao longo dos anos e confesso que tô meio por fora da cena punk/hardcore contemporânea, mas curto muito Turnstile. GLOW ON (2021) sempre toca por aqui.
🗣 Call to action aleatória para gerar engajamento
Fala a verdade: você já fez algum post, texto ou vídeo em determinado formato apenas pensando nos likes?
Acesse a playlist com as músicas indicadas aqui e na newsletter Passageiro. Ela é atualizada semanalmente.
Uma nota aos mais novos: antes de existir o armazenamento na nuvem, utilizávamos o CD (abreviação de Compact Disc; “Disco Compacto”), um disquinho redondo, para o armazenamento de dados. O formato foi originalmente desenvolvido com o propósito de armazenar e tocar músicas (80 minutos, no máximo), mas posteriormente foi adaptado para o armazenamento de dados, levando o nome de CD-ROM.
O “Acordo dos Sete Discos” era um tipo comum de acordo entre gravadoras e artistas que dizia que sete deveria ser o número de discos que um artista deveria lançar por uma gravadora – não importando a qualidade; ou o que aconteça.
A notificação chegou bem na hora que eu tava com o celular na mão e já aproveitei pra me atualizar na newsletter 💅🏾
Te contar que tenho percebido esse movimento de ser dono do próprio negócio e de ter mais liberdade artística MUITO forte com as mulheres do trap/rap nacional, como a Ebony ou Ajuliacosta — essa, inclusive, que deixa bem explícito no SET AJC 2 que não vai entrar em gravadora e vai montar a própria firma pois gangstas fazem assim (✨), além de avisar em outro som que a gravadora vai deixar você na geladeira e que é bom ficar esperta com isso.
Acho, inclusive, que a cultura hiphop anda de mãos dadas com o punk quando o assunto é colaboração e faça você mesmo. É genuinamente bacana ver artistas independentes apoiando uns aos outros porque eles têm ciência de que crescer sozinho não é sustentável pro todo.
Quando eu tava no início da vida adulta acho que ligava mais pra engajamento, likes e afins do que agora. Hoje, só quero postar foto de coruja no Instagram, ir pra Floripa (dessa vez pra morar) e tentar ver se arranjo o privilégio de sumir no meio do mato caso os planos de “dar certo” que ainda não sei quais são deem certo de verdade. Pensando em empreender mais do que antes, ainda não sei como, nem sei se suportaria a ansiedade de não ter uma renda fixa, mas aí só arriscando esse caminho das pedras mesmo pra dizer…
Obrigada pelo texto 💐🤌🏾💖
eu quase não abro o linkedin… tenho a impressão de que lá é o instagram da vida corporativa perfeita.